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O VENTO DA MUDANÇA: O BEM-ESTAR ANIMAL E A PECUÁRIA LEITEIRA

Atualizado: há 4 dias

Na segunda coluna da série “Sustentabilidade Integral”, entenda como o BEA Score, uma ferramenta inovadora da startup ESGpec, está ajudando os produtores a se adaptarem às novas exigências de sustentabilidade e responsabilidade ambiental.


O VENTO DA MUDANÇA


Assim como a canção “Vento ventania”, sucesso do Biquini Cavadão, evoca a busca pela superação de desafios e a renovação trazida pelo vento — “me leve para as bordas do céu” —, as fazendas leiteiras estão sendo impulsionadas pelos ventos da transformação, guiadas por novas exigências dos consumidores por práticas mais responsáveis e sustentáveis. O vento, tanto na música quanto no setor agropecuário, simboliza esse movimento de mudança e adaptação, destacando a importância de inovar para superar obstáculos e avançar em direção a um futuro mais promissor.


Na segunda coluna da série “Sustentabilidade Integral”, fruto da parceria entre a Revista Leite Integral e a ESGpec, apresentamos os resultados do BEA Score, uma ferramenta gamificada desenvolvida pela startup para avaliar o bem-estar animal nas fazendas leiteiras. Essa solução faz parte de um conjunto de ferramentas voltadas para a agenda ESG, permitindo que os produtores revisem suas operações, ajustem práticas de produção e direcionem esses ventos de mudança para um futuro mais equilibrado, integrado e biodiverso. O diagnóstico, conduzido pela RURALE – empresa especializada em qualificar, profissionalizar e capacitar as propriedades leiteiras por meio de consultorias e treinamentos – abrangeu 100 fazendas, distribuídas em 3 estados do Brasil, entre abril e setembro de 2024.


Perfil das fazendas


O levantamento foi realizado por 10 técnicos da RURALE, capacitados para garantir a padronização do processo, abrangendo 100 fazendas (40 em Minas Gerais, 35 no Rio Grande do Sul e 25 em Goiás). Em relação às instalações para vacas em lactação, 84 fazendas relataram possuir apenas um tipo de instalação, enquanto 16 citaram a utilização de mais de um sistema. A infraestrutura predominante foi a pista de alimentação para vacas em pastejo, presente em 48% das fazendas, seguida pelo piquete de terra batida (23%), Compost Barn (16%) e os sistemas como Free Stall, pastejo rotacionado e outros, que representaram 13% das propriedades.


O perfil racial dos rebanhos indicou predominância de vacas da raça Holandês, presentes em 52 fazendas, seguidas pela Girolando, em 41 propriedades. A raça Jersey apareceu em 6 fazendas e Gir em uma. A média de produção registrada foi de 20,1 kg de leite por vaca/dia, com um estoque médio de 68 vacas em lactação por fazenda.


O que é o BEA Score?


O BEA Score é uma metodologia de gamificação desenvolvida pela ESGpec para avaliar o bem-estar animal, atribuindo à fazenda uma pontuação que pode chegar ao total de 10 pontos. Com esta nota, ou escore, o produtor obtém uma visão prática e abrangente das condições do rebanho, refletindo o compromisso com a dimensão social na implantação da agenda ESG no setor lácteo. O BEA Score permite uma avaliação holística, observando o cenário geral do rebanho e possibilitando o acompanhamento da evolução ao longo do tempo.


A importância de realizar essa avaliação vai além do diagnóstico imediato. Ao adotar a aplicação do BEA Score, os produtores ganham um entendimento profundo de suas próprias fazendas, identificando pontos de melhoria e preparando-se para atender às demandas crescentes dos consumidores por práticas sustentáveis e responsáveis. O processo de avaliação, oferecido gratuitamente por meio do projeto Despertar Regenerativo, é uma oportunidade para os produtores aprimorarem seus conhecimentos e uma forma eficaz de direcionar o suporte técnico recebido.


Durante o preenchimento do BEA Score, muitos produtores relataram que o processo se mostrou uma verdadeira experiência de aprendizado. A ferramenta fornece, em tempo real, materiais técnicos de apoio, incluindo artigos, vídeos, imagens que esclarecem os pontos avaliados. Isso enriquece o processo e ajuda a corrigir práticas que poderiam passar despercebidas no manejo diário das fazendas.


O BEA SCORE PERMITE UMA AVALIAÇÃO HOLÍSTICA, OBSERVANDO O CENÁRIO GERAL DO REBANHO E POSSIBILITANDO O ACOMPANHAMENTO DA EVOLUÇÃO AO LONGO DO TEMPO


Fotos

Cada fase do BEA Score corresponde a um dos cinco domínios do bem-estar animal, garantindo uma avaliação abrangente:


1. Nutrição: avalia o acesso contínuo à água limpa e à dieta balanceada, de modo que os animais estejam livres de fome e sede;

2. Ambiente: foca na liberdade dos animais para se mover e descansar, assegurando que tenham abrigo adequado contra intempéries;

3. Saúde: avalia a ausência de doenças, lesões e dor, promovendo a saúde física e mental dos animais;

4. Comportamento: verifica se os animais podem expressar comportamentos naturais e interagir socialmente;

5. Estado mental: foca no bem-estar emocional, garantindo que os animais estejam livres de medo e estresse.


Esses domínios são cruciais para identificar áreas que necessitam de melhorias, por meio de uma análise abrangente das condições das fazendas.


Resultados


A pontuação média geral nas fazendas foi de 6,9 pontos e 12 fazendas tiveram BEA Scores superiores a 8 pontos. A média desse grupo com maior pontuação foi de 8,4 pontos, com predominância de rebanhos da raça Holandês (Gráfico 1). Neste extrato, estavam fazendas dos três estados avaliados, com média de produção de 27,6 kg/vaca/dia e média de 87 vacas em lactação.


Grafico-1

Dentre os cinco domínios, considerando as 100 propriedades, o domínio “saúde” se destacou como o que mais necessita de atenção, com pontuação média de 58% do total possível. Em contrapartida, os domínios “nutrição” e “ambiente” obtiveram as melhores médias, 73 e 79%, respectivamente. Já os domínios de “comportamento” e “estado mental” tiveram resultados intermediários, ambos alcançando 67%. Isso mostra que, embora as avaliações indiquem animais bem alimentados e mantidos em ambientes adequados, existem desafios importantes a serem enfrentados, especialmente na área de saúde animal, como a prevenção de doenças e melhorias no manejo (Gráfico 2).



Grafico-2

Continue acompanhando a série Sustentabilidade Integral, pois em edições futuras faremos uma análise detalhada das respostas às 12 perguntas do domínio “saúde”, oferecendo uma visão aprofundada das oportunidades de melhoria e destacando práticas que podem aprimorar a saúde e o bem-estar animal nas fazendas.


Produtividade e Bem-Estar Animal


As fazendas com maior produção média (extrato acima de 25 kg de leite por vaca/dia) obtiveram pontuação média de 7,5 no BEA Score. Em contraste, as propriedades com produção abaixo de 15 kg/vaca/dia registraram média de 6,4 pontos, uma diferença de 18%. Esses dados sugerem uma associação entre o investimento consistente no bem-estar dos animais e produtividade, reforçando o impacto positivo das práticas que promovem tanto a saúde animal quanto a eficiência produtiva (Tabela 1).


Tabela-1

Sistema de produção e Bem-Estar


Ao analisar os tipos de infraestrutura utilizados para vacas em lactação, os resultados do BEA Score variam conforme o sistema adotado em cada fazenda. As fazendas que utilizam a pista de alimentação para vacas em pastejo, adotada em 42 propriedades, registraram uma pontuação média de 6,9 pontos. As 17 fazendas que utilizam o piquete de terra batida apresentaram uma média de 6,6 pontos, enquanto aquelas que adotam combinações de dois ou mais sistemas, presentes em 16 propriedades, alcançaram uma média de 6,8 pontos. Nas 15 fazendas com Compost Barn, o BEA Score foi de 7,4 pontos. Adicionalmente, 7 fazendas que adotam sistemas como Free Stall, Cross Ventilation ou outros, obtiveram uma pontuação média de 6,7, enquanto as 3 fazendas com pastejo rotacionado registraram uma média de 7,2 pontos (Tabela 2).


Tabela-2

No que se refere aos sistemas de criação de bezerras, as fazendas que utilizam casinhas individuais (16 rebanhos) apresentaram uma média de BEA Score de 7,4. Em contrapartida, os sistemas de criação coletiva com aleitamento manual e aleitamento natural apresentaram médias de 6,2 e 5,7, respectivamente, com um total de 20 rebanhos avaliados. Esses resultados sugerem que os diferentes sistemas de criação podem estar relacionados a desafios que impactam o bem-estar geral dos animais, o que, por sua vez, pode influenciar o desempenho produtivo das fazendas (Tabela 3).


Tabela-3

Oportunidades de Melhoria e Futuro Sustentável


Os resultados do BEA Score indicam que o domínio “saúde animal” é um ponto crítico. Observando as respostas a cada pergunta deste domínio, observa-se que o planejamento sanitário é crucial para melhorar o bem-estar geral nestas fazendas. Práticas preventivas, boas práticas de manejo sanitário e controle de doenças são fatores essenciais. Ao integrar essas melhorias com iniciativas sustentáveis, as fazendas podem evoluir para um modelo de produção mais equilibrado, beneficiando os animais, as pessoas e o meio ambiente.


Conclusão


Fazendas que buscam eficiência devem dar atenção ao bem-estar animal, e o BEA Score é um grande aliado neste processo. A pontuação média de 6,9 obtida pelas fazendas avaliadas reflete a necessidade de melhorias, especialmente no domínio da “saúde animal”.


Com maior foco no manejo e a incorporação de inovações tecnológicas, essas fazendas têm o potencial de alcançar novos patamares de sustentabilidade, tornando-se exemplos de boas práticas no setor pecuário.


Além disso, à medida que os consumidores exigem maior transparência e responsabilidade nas cadeias produtivas, as fazendas que colocam o bem-estar animal no centro de suas operações estarão mais preparadas para atender a essas demandas. Históricos de crises e práticas inadequadas relacionadas ao bemestar animal, que já trouxeram impactos negativos ao setor, reforçam a importância de iniciativas como o BEA Score. Essas ferramentas são fundamentais para mitigar riscos reputacionais e garantir a manutenção e o fortalecimento da confiança dos consumidores.


A avaliação estruturada do bem-estar animal vai além dos benefícios individuais de cada fazenda. Com a adoção crescente de processos de avaliação, como o BEA Score, torna-se possível estabelecer metas que ofereçam tanto um olhar interno — monitorando o desempenho da fazenda ao longo do tempo — quanto um olhar externo — benchmarking, comparando seu desempenho com outras propriedades. Isso facilita a identificação de oportunidades de melhoria e de adaptação.


Esse processo proporcionará conhecimento valioso para o setor, e, indo além, permitirá que os produtores se adaptem de maneira mais eficiente às demandas crescentes por práticas sustentáveis e responsáveis. Tais esforços beneficiarão diretamente os animais, aumentarão a competitividade das propriedades no mercado global e fortalecerão a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva.


COM A ADOÇÃO CRESCENTE DE PROCESSOS DE AVALIAÇÃO, COMO O BEA SCORE, TORNA-SE POSSÍVEL ESTABELECER METAS QUE OFEREÇAM TANTO UM OLHAR INTERNO — MONITORANDO O DESEMPENHO DA FAZENDA AO LONGO DO TEMPO — QUANTO UM OLHAR EXTERNO — BENCHMARKING, COMPARANDO SEU DESEMPENHO COM OUTRAS PROPRIEDADES



BRUNA SILPER

Médica veterinária, especialista em pecuária de

precisão e soluções sustentáveis, PhD em Ciência

Animal e produtora de leite em MG.

HELOISE DUARTE

Médica veterinária, especialista em Gestão

Agroindustrial e produtora de corte em MG.

LUIZ GUSTAVO PEREIRA

Médico veterinário, professor e pesquisador, Doutor

 em Ciência Animal, especialista em nutrição e

sistemas regenerativos.


 

Sobre a ESGpec

A ESGpec é uma startup que nasceu com o propósito de integrar tecnologia e sustentabilidade ao agronegócio, oferecendo ferramentas que ajudam os produtores a mensurar e melhorar sua performance ambiental. Com um portfólio que inclui soluções como o BEA Score, a missão da empresa é promover práticas regenerativas que contribuam para um sistema de produção mais equilibrado e responsável.

 
Despertar Regenerativo



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